segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Os 10 livros que marcaram minha vida




Começou como uma postagem de uma amigo de longa data no facebook, passando adiante uma dessas brincadeiras de rede social. Esta, no entanto, faz parte da minoria de brincadeiras realmente interessantes e construtivas.

A regra era listar e justificar 10 livros que mais marcaram sua vida. Veja bem: não os 10 melhores livros que você já leu, ou os seus 10 favoritos. Os que mais marcaram sua vida. Simples.

Como sempre resolvi, transformar isso em material aqui para o blog. Sem mais delongas:

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1. Harry Potter, de JK Rowling - O primeiro livro de maior volume e relevância que li na minha vida, ainda no saudoso ano de 2002, quando eu tinha 8 anos de idade. Acima de tudo, o maior responsável pelo meu amor pela literatura e pela fantasia. Eu costumo dizer que cada fase da minha vida teve uma saga de literatura fantástica firmemente atrelada, e Harry Potter é a da minha Infância (embora eu carregue comigo até hoje).



2. O Senhor dos Anéis, de JRR Tolkien - Não só a trilogia, como toda a extensa obra e mitologia de Tolkien, ocupam seu lugar como obra de fantasia da minha Adolescência. Li A Sociedade do Anel pela primeira vez em 2007 (já havia lido O Hobbit), e passei meu Ensino Médio me aprofundando neste universo. Me ensinou a estreita e indispensável relação entre simbologia e fantasia.



3. As Crônicas do Matador do Rei, de Patrick Rothfuss - Finalizando a trinca, essa é a saga de fantasia que está atrelada à minha fase de vida atual. Simplesmente o desenvolvimento de personagem mais completo e tocante que já li, além de uma rara poesia na narrativa. Me identifico muito com o protagonista, pois compartilho da principal característica dele: uma pluralidade de interesses pelos assuntos mais diversos. Se alguém me perguntasse, essa seria "a obra que eu gostaria de ter escrito".



4. As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain - Li esse clássico da literatura norte-americana no melhor momento possível, quando eu era criança. Ele ajudou a definir muito da minha visão sobre infância, sobre crianças e sobre a vida em si, junto com o filme Ponte para Terabítia.



5. O Inimigo do Mundo, de Leonel Caldela - Eu jogava RPG, e adorava o cenário de Tormenta, por isso resolvi ler o romance ambientado nesse cenário. Estava adorando, quando de repente um fato bem óbvio me atingiu com a força de um Míssil Mágico: esse livro foi escrito por um brasileiro! Foi a primeira vez em que me dei conta de que um brasileiro podia produzir obras tão boas quanto as gringas, e também a primeira vez em que me dei conta de que queria ser escritor de fantasia.



6. A Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr - Anos depois de O Inimigo do Mundo, outra obra de fantasia sensacional escrita por um brasileiro voltou a me colocar no caminho do qual eu havia me desviado um pouco: escrever. Dessa vez, mais velho e mais maduro, eu pude me dedicar a isso com mais seriedade.



7. A Jornada do Escritor, de Christopher Vogler - O livro básico que me jogou neste caminho árduo de estudar narrativa. Foi uma pedra fundamental, e também um portão para outras leituras que me ajudaram a melhorar não apenas minha escrita, como também minha leitura de outras obras (em todas as mídias).



8. As Crônicas de Arthur, de Bernard Cornwell - Minha porta de entrada para um de meus autores favoritos, e também para todo o gênero da ficção histórica. E esta é a principal responsável pelo meu amor pela História, portanto esse livro foi fundamental para as minhas escolhas de vida e formação intelectual.



9. As Vantagens de ser Invisível, de Stephen Chbosky - Gostaria de ter lido este livro no momento certo da minha vida, quando estava no Ensino Médio. Ainda assim, me tocou emocionalmente como creio que nada antes, e abriu minha mente a certas sensibilidades da narrativa que vão além da simbologia da literatura fantástica.



10. On the Road, de Jack Kerouac - A primeira obra que li da maravilhosa geração beatnik. Mais do que tudo, este livro me fez refletir intensamente sobre a própria noção de arte, sobre a relação entre vida e arte, entre autor e obra... Enfim, ajudou a refazer todos os meus fundamentos sobre arte e filosofia artística.



Menção Honrosa: Indiana Jones and the Hollow Earth, de Max McCoy - O livro em si é um pulp muito divertido, porém pouco marcante. Mas foi a primeira obra substancial que li inteiramente em inglês, o que expandiu muito meus horizontes.

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Eu poderia citar muitos outros que me marcaram de formas diferentes, mas escolhi priorizar os que me formaram como leitor e autor. Acima de serem dez livros, foram dez momentos marcantes da minha vida.

domingo, 10 de agosto de 2014

Aventura: Trilha da Pedra do Quilombo



Localizada no Parque Estadual da Pedra Branca, no Rio de Janeiro, a trilha tem 5 quilômetros e meio de comprimento e alcança 735 metros de altitude. O nível de dificuldade é médio; não é necessário experiência em trilhas, mas se exige algum preparo físico.

As fotos foram tiradas no dia 15 de fevereiro de 2014.

























Mais informações sobre a trilha aqui.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Crows e a delinquência juvenil japonesa



Quem lê mangá e assiste animes já deve ter percebido uma temática recorrente de protagonistas jovens que tentam escapar das regras rígidas da sociedade japonesa. Estou falando de "vagabundos" ou "delinquentes" de bom coração, como Ichigo Kurosaki (Bleach), Yusuke Urameshi (Yu Yu Hakusho), Joe Yabuki (Ashita no Joe) e Takashi Komuro (Highschool of the Dead), que costumam matar aula e se envolver em brigas, mas na verdade não fazem mal a ninguém.

Pois eis que semestre passado eu cursei na faculdade uma disciplina de Quadrinhos enquanto objeto da História (ou algum nome parecido) e escolhi este assunto como tema do meu trabalho. Para abordá-lo, escolhi o mangá Crows, de autoria de Hiroshi Takahashi, que trata especificamente sobre a questão da delinquência juvenil japonesa.

O trabalho é curto e, por se para uma disciplina não especializada em mangá, trás uma breve história deste mercado e seu atual regime de publicação. Como recebi uma nota 9.5 (de 10), acho que tá bom o suficiente pra compartilhar ele aqui.

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Como o trabalho tem 13 páginas, vou deixar o link para download em PDF ao invés de colá-lo todo aqui.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Temporada Verão 2014 - Primeiras Impressões pt2



Continuação desse post aqui.

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Zankyou no Terror


Gêneros: Psicológico, Thriller
Fonte: Original
Estúdio: MAPPA

Em um dia de verão um massivo atentado terrorista subitamente atinge Tóquio. Os culpados por trás do ato que acordou esta nação complacente de seu sono eram apenas dois garotos. Agora os culpados conhecidos como “Esfinge” começam um jogo grandioso que abrange todo o Japão.


Pra começar, vale lembrar que esse anime é dirigido pelo já lendário Shinichiro Watanabe (Cowboy BebopKid's StoryA Detective StorySpaceDandy), cujo nome é um selo de qualidade. Dito isso, pode esperar todos os aspectos técnicos impecáveis (pra evitar o termo perfeitos).

Os personagens principais despertam interesse logo à primeira vista, e conseguem ser visualmente únicos mesmo sem ter nenhum traço exagerado. O mistério é construído de forma perfeita: ele esconde o suficiente para te deixar intrigado, mas mostra o suficiente para você perceber que REALMENTE existe algo por trás (porque o que não falta é roteirista picareta que tenta construir mistério em cima de nada).

Não há nada mais que eu possa dizer além de: ASSISTA! Com apenas 11 episódios, tem tudo para ser o anime da temporada (e do ano).

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Barakamon


Gêneros: Comédia, Slice of Life
Fonte: Manga
Estúdio: Kinema Citrus

Como punição por esmurrar um calígrafo famoso, o jovem e bonito calígrafo Handa Seishu é exilado em uma pequena ilha. Como alguém que nunca viveu fora de uma cidade grande, Handa tem de se adaptar aos seus novos e malucos vizinhos, como as pessoas que viajam de trator, visitantes indesejados que nunca usam a porta da frente, crianças irritantes usando sua casa como um parque infantil etc. Será que esse cara da cidade conseguirá aguentar essas loucuras? Descubra nessa comédia cheia de inocência e risos.


A animação impecável e a direção maravilhosa de Masaki Tachibana me conquistaram já na primeira cena. Mas não parou aí.

A premissa de um homem da cidade que vai para o interior encontrar a si mesmo é velha, mas esse anime provou que velhas histórias merecem ser recontadas, desde que de forma bem-feita. Todos os personagens são carismáticos, e a química entre o protagonista e a menininha irritante funcionou com precisão.

Com 12 episódios, vai disputar o posto de anime da temporada com Zankyou no Terror.

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Ao Haru Ride


Gêneros: Comédia, Drama, Romance, Escolar, Shoujo
Fonte: Manga
Estúdio: Production I.G

Yoshioka Futaba tem algumas razões pelas quais ela quer “reiniciar” sua imagem e sua vida como uma nova estudante de ensino médio. Por ser bonita e fofa, acabou condenada ao ostracismo por suas colegas do sexo feminino no ensino fundamental. Além disso, por causa de um mal-entendido ela não conseguiu expressar seus sentimentos para o garoto de quem gostava, Tanaka-kun. Agora ela está determinada a ser tão grosseira quanto possível, de modo que seus amigos não fiquem com ciúmes dela. Enquanto vivia sua vida assim, Futuba encontra Tanaka-kun novamente.


Nos aspectos técnicos, as cores pouco vibrantes e a trilha sonora predominantemente suave combinam para criar uma atmosfera bem tranquila. O ritmo desacelerado da narrativa acompanha perfeitamente, mas pode desagradar as pessoas que preferem coisas mais "alucinadas".

A princípio, a premissa não me atraiu. Mas o enredo foi bem construído, com destaque a uma característica interessante: os personagens foram bem mais honestos com seus sentimentos do que costumam ser em animes shoujo. Não está entre meus favoritos, mas, sendo um anime curto (12 episódios), é possível que acabe antes de se tornar repetitivo.

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Bakumatsu Rock


Gêneros: Musical
Fonte: Vídeo Game
Estúdio: Studio Deen

A história se passa na era Bakumatsu, no final do comando dos shoguns sobre o Japão. O shogunato Tokugawa usa as Canções do Paraíso cantadas pelos principais idols do Shinsengumi para fazer lavagem cerebral e subjugar o país e seu povo. Neste Japão, escrever ou cantar qualquer música além das Canções do Paraíso é uma ofensa capital. Sakamoto Ryouma e outros roqueiros se levantam para mudar o mundo com o rock ‘n roll, lutando pela liberdade e justiça.


Uma tsunami de clichês, surfada por personagens rasos e estereotipados. Apesar de tudo, achei que o humor conseguiu acertar a mão, e assistir esse anime não foi uma experiência ruim. Mas não acho que isso me seguraria durante 12 episódios.

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Futsuu no Joshikousei ga [Locodol] Yatte Mita


Gêneros: Comédia, Seinen
Fonte: Manga
Estúdio: Feel

A história é sobre a vida de uma garota do ensino médio, Nanako, e sua senpai, Yukari, que acabam se tornando idols locais (locodol) a pedido de seu tio. No entanto, elas logo descobrem que seu novo estilo de vida é menos estelar do que imaginavam, visto que apenas são entrevistadas por centros comerciais da cidade, aparecem em programas de TV de baixo orçamento e fazem shows no telhado de lojas de departamento. Os salários são pagos dos impostos da cidade.

Apesar de não gostar nem um pouco da cultura idol, tinha boas expectativas quanto a esse anime. Talvez por ele estar listado como seinen (ou seja, público-alvo um pouco mais velho), esperava que ele fosse mais crítico quanto a essa cultura. Mas ele acabou puxando mais para uma comédia leve, com uma dose ainda tolerável de moe.

Mas não foi ruim. A protagonista, Nanako, é bastante carismática, e sua relação com o tio/empresário gerou ótimos momentos. Já a senpai, Yukari, faz o papel de "menina perfeita", por isso é completamente sem graça.

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Himegoto


Gêneros: Comédia, Ecchi, Gender Bender, Slice of Life
Fonte: Manga
Estúdio: Asahi Production


A história segue Hime Arikawa, um menino que está sendo perseguido por pessoas assustadoras. No entanto, ele é resgatado do perigo pelas meninas do conselho estudantil de sua escola – 18-Kin-san, presidente Unko e Beru-senpai. O conselho estudantil assumirá a dívida de Arikawa sob uma condição: “Como cachorro do conselho estudantil, você vai passar sua vida do ensino médio em roupas de mulher”.

Eu sei, a sinopse é meio estranha. Mas o anime é insano e engraçado. E, tendo apenas 4 minutos de duração, não precisa de muito mais que isso. Vale a pena pra quem gosta desse tipo de anime.

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Jinsei


Gêneros: Slice of Life
Fonte: Light Novel
Estúdio: Feel


A história gira em torno de Yuuki Akamatsu, um menino que se junta à equipe do segundo jornal de sua escola. A editora-chefe, Ayaka Nikaido, imediatamente atribui para ele a coluna de conselhos para vida. Três meninas – a representante de ciências, Rino Endo, a representante das artes liberais, Fumi Kujo, e a representante de educação física, Ikumi Suzuki – respondem perguntas de alunos sobre o que os está incomodando.

Este é uma verdadeira dúvida. Por um lado, a premissa de o protagonista ter que interagir com três garotas de personalidades completamente diferentes é interessante. Isso gera diálogos ótimos, com destaque para toda a cena do Clube dos Indecisos. Por outro, a quantidade de moe, fanservice e puro e simples besteirol deixou o episódio um pouco arrastado e difícil de assistir em alguns momentos. Além disso, as personagens não cativaram e o character design é bem genérico.

E então, vale a pena passar por uma cena de guerra de bexigas de água pra chegar em uma discussão sobre fatalismo e sistema estocástico?

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Glasslip


Gêneros: Slice of Life
Fonte: Original
Estúdio: P.A. Works

A história segue seis estudantes do ensino médio que se reúnem durante o verão. O protagonista é Touko Fukami, um jovem de 17 anos de idade, nascido na prefeitura de Fukui. Seu sonho é se tornar um artesão de vidro.


Muito bonitinho e tal, mas não me cativou. Não sei se o problema fui eu, mas simplesmente tive que tentar várias vezes pra conseguir assistir. Achei muito lento, e os personagens não prenderam meu interesse.

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Acho que termino por aqui minhas Primeiras Impressões dessa temporada. A princípio pensei que seria uma temporada fraca, mas acabei tendo várias boas surpresas. Acho que os que mais se destacaram pra mim, em termos de primeiro episódio apenas, foram Zankyou no Terror, Barakamon e Tokyo Ghoul.

Se surgir mais alguma coisa eu faço um adendo.

domingo, 6 de julho de 2014

Temporada Verão 2014 - Primeiras Impressões pt1



Começou a nova temporada de animes lá no Japão; uma temporada com a segunda temporada do excepcional Space Dandy, mas poucas estreias promissoras. Vamos esperar que haja ao menos uma ou duas boas surpresas nos aguardando.

Obs: Para o guia completo da temporada, checar o sempre excelente post do Gyabbo.

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Shirogane no Ishi Argevollen


Gêneros: Mecha, Ação
Fonte: Original
Estúdio: Xebec

Em um mundo onde os países Alanda e Ingermia estão em guerra há um longo período, o soldado Tokimune salva uma garota chamada Jamie do ataque das forças inimigas; agora, para conseguir sobreviver, ele passa a lutar usando o Argevollen, um nova arma de guerra.


Os aspectos técnicos não trazem nada de novo ou surpreendente - são até bastante genéricos -  mas funcionam dentro do gênero. O uso de CGI para fazer os mechas - o que dá margem para animações horríveis - neste caso é até sutil e bem encaixado. Peca, no entanto, pela lentidão das cenas de ação e pela incapacidade de representar o peso dos robôs.

A trama é genérica, mas não tenta se supervalorizar e não perde tempo com narração expositiva, o que é positivo. Os personagens ainda não foram decentemente apresentados e parecem bastante clichê, inclusive na aparência. Um pecado especial é a quantidade inexplicável de garotas "fofinhas" em meio às forças armadas. Fica um salve positivo por tirar parte do foco do combate em si e mostrar um pouco do dia-a-dia dos soldados em uma situação de guerra.

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Rail Wars



Gêneros: Ação, Romance, Shounen

Fonte: Light Novel

Estúdio: Passione

A história do “sonho do entretenimento ferroviário paradisíaco” é ambientado em um mundo paralelo onde o Japão não privatizou suas as ferrovias nacionais. Naohito Takayama é um garoto comum do ensino médio que sonha com um futuro confortável trabalhando para as Ferrovias Nacionais do Japão. Ele é contratado como estagiário na Força de Segurança, cheia de pessoas estranhas, como Sakurai, um encrenqueiro que odeia homens. Além disso, um grupo extremista chamado “RJ” planeja privatizar as estradas de ferro nacionais japonesas.


Bonito e bem animado, embora sem nada que impressione ou encha os olhos. A trilha sonora é básica, mas tem alguns toques de jazz que quebram a monotonia e contribuem bastante para o clima leve do anime.

A trama é curiosa, e avança neste primeiro episódio em um ritmo muito rápido, mas que ainda funciona. Resta saber qual será o comprimento da série e se este ritmo se manterá; é provável que não. Os personagens ainda não foram desenvolvidos e parecem bem clichê, mas têm algum carisma. Acho que vale assistir mais um ou dois episódios pra ver no que vai dar.

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Tokyo Ghoul


Gêneros: Sobrenatural, Psicológico, Seinen
Fonte: Manga
Estúdio: Studio Pierrot

O suspense de horror se passa em uma Tóquio assombrada pelos misteriosos “fantasmas” que estão devorando seres humanos. As pessoas estão tomadas pelo medo destes fantasmas cujas identidades são mascaradas em mistério. Um estudante universitário comum chamado Kaneki encontra Rize, uma menina que é uma ávida leitora como ele. Ele não percebe que seu destino irá mudar durante essa noite.


Confesso que esperava apenas mais um destes animes sombrios, gráficos e insanamente violentos que fazem sucesso entre pré-adolescentes revoltadinhos. Fui surpreendido por uma trama muito bem construída, que promete embarcar de forma bastante dramática no psicológico e moralidade do protagonista. A apresentação do universo foi minimalista e elegante, mas quase escorregou na cena final e se tornou desnecessariamente expositiva.

O conjunto técnico (estética, animação, trilha sonora...) foi impecável. O destaque fica para os cenários bem construídos e bem aproveitados e, acima de tudo, à direção de Shuhei Morita. A montagem das cenas foi muito bem feita, acelerando ou desacelerando o ritmo de acordo com o que a trama pedia. Primeira boa surpresa da temporada.

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Aldnoah Zero



Gêneros: Ação, Mecha, Ficção Científica
Fonte: Original
Estúdio: A-1 Pictures

Em 1972, uma hipervia foi descoberta na superfície da lua e a humanidade começou a migrar para Marte, estabelecendo-se por lá. No entanto, eventualmente, as sementes da guerra foram semeadas.


O anime tem mais personalidade do que sua sinopse genérica faz parecer. Nos quesitos técnicos, o destaque fica para a trilha sonora, muito bem orquestrada e que constrói muito bem os momentos de tensão da penúltima sequência. Lembra um pouco a trilha de Pacific Rim. Apesar disso, os acorde principais de um dos temas parece um rip-off do tema principal de Kill la Kill, Don't Lose Your Way.

A montagem e direção (de Ei Aoki) é muito bem executada - ele alterna entre diversos núcleos de personagens ao invés de seguir uma linha única, dando um sabor especial ao anime e conseguindo estabelecer o universo sem apelar muito para as exposições. Ainda é cedo para falar dos personagens, mas essa série pode ser uma boa promessa.

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Akame ga Kill


Gêneros: Ação, Aventura, Fantasia
Fonte: Manga
Estúdio: White Fox

Em um mundo de fantasia, o lutador Tatsumi parte para Capitol com o intuito de ganhar dinheiro para a sua aldeia que está morrendo de fome, mas acaba encontrando um mundo de corrupção inimaginável, tudo se espalhando a partir do depravado primeiro-ministro. Depois de quase se tornar uma vítima desta próprio corrupção, Tatsumi é recrutado pelo Raid Night, um grupo de assassinos dedicados a eliminar a corrupção que assola Capitol.


O anime promete ser apenas mais um battle shonen genérico, com aquele enredo clichê de protagonista guerreiro que sai de sua vila no interior para ir à cidade grande. E é exatamente isso que ele entrega.

Ao menos até a sequência final, quando as coisas mudam de figura e o potencial da série sobe imensamente. Não vou dizer mais nada, pra não estragar a experiência, mas vale a pena assistir este primeiro episódio.

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Gekkan Shoujo Nozaki-kun


Gêneros: Comédia, Romance, Escolar, Shoujo
Fonte: Manga
Estúdio: Dogakobo

É uma comédia romântica que começa quando a estudante do ensino médio, Sakura Chiyo, confessa seus sentimentos para seu colega Nozaki. Devido a um mal-entendido, Nozaki pensa que Sakura é apenas uma fã de seu trabalho como mangaka de shoujo.


Toda temporada eu escolho um shoujo bonitinho para assistir junto com a minha namorada, e esse tem tudo pra ser o escolhido da vez. A dinâmica entre os eventos românticos que o protagonista masculino representa em seu mangá e a falta de romantismo em sua vida real dá o tom humorístico, junto com as "reações internas" da protagonista feminina (bem utilizadas, lembrando Nisekoi). Está, aliás, é bastante carismática, característica imprescindível neste tipo de anime. Já a falta de carisma do protagonista masculino é intencional e serve a propósitos narrativos, por isso não incomoda.

Os aspectos técnicos funcionam muito bem, mas também não inovam. A música de abertura é especialmente boa, minha favorita da temporada até agora. Saldo final: altamente recomendável pra quem gosta do gênero.

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Vou encerrar por aqui este post, mas haverá mais um, talvez até dois. É, esta temporada não está se saindo mal, mas ainda falta algo que exploda minha cabeça, um Space Dandy da vida. Quem sabe no próximo lote?

Parte 2 aqui.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

A Floresta Medieval: Espaço de Alteridade e Marginalidade



Obs: Este texto foi originalmente concebido como um trabalho de faculdade, por isso talvez tenha uma linguagem ligeiramente diferente da que costumo usar aqui no blog.

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1. Introdução

Embora em processo de desmatamento desde a pré-história e mais intensamente desde os tempos romanos, durante a Idade Média as florestas ainda ocupavam grandes extensões do território europeu. Em uma sociedade espacialmente fragmentada e encelulada, as vegetações coníferas e as hoje quase extintas florestas temperadas ocupavam todos os espaços vagos entre os bolsões de terra cultivada e civilizada, de forma que algum bosque ou mata estava sempre dentro do alcance das pernas e da imaginação do homem medieval.

Dimensões do desmatamento entre a Alta Idade Média e a Idade Contemporânea 


O próprio termo floresta (ou forest, no inglês) deriva do latim foris, significando algo como do lado de fora. Vendo que deserto deriva de desertus - lugar abandonado, fora de ordem – fica claro o motivo pelo qual estes termos muitas vezes apareciam quase como sinônimos nos textos romanos e medievais. Para o homem medieval, mais importante que as especificidades de cada bioma era o fato de que todos os espaços selvagens eram tidos como externos, caóticos e indesejáveis. O que não deixa de ser contraditório (ou no mínimo irônico), visto a importância dos recursos que estes ambientes ofereciam.

Fora da sociedade organizada e longe das figuras de poder, a floresta estava repleta de perigos reais, como bandidos de estrada e animais selvagens. Mas foi no imaginário e na literatura que ela mais brilhou, sendo descrita como o espaço da magia, do sobrenatural, do maravilhoso e dos atos vilanescos. Seja nos poemas épicos, nas hagiografias ou na literatura cavalheiresca, com frequência é nas imensidões florestais que o santo ou herói precisa penetrar para enfrentar o demônio e seus agentes.

É seguro supor que este ambiente ocupava na mentalidade medieval um lugar como espaço por excelência do Outro, do Forasteiro (termo que deriva da mesma raiz foris, assim como o equivalente em inglês, foreign), do Marginal.

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2. O papel da floresta na sociedade medieval

O papel mais comumente lembrado da floresta na sociedade medieval é como mecanismo de poder da classe dominante, através da caça. Além de um entretenimento, a caça era uma ferramenta importante para reafirmar visualmente o domínio da nobreza sobre toda a extensão do território, inclusive as áreas ermas.

Cena de caça a animais grandes, um privilégio da nobreza


No entanto, não era esta a única importância das florestas. Apesar de toda a carga cultural negativa, as regiões não cultivadas ofereciam recursos importantes à economia medieval - embora ainda minoritários em relação ao cultivo agrícola.

Talvez o recurso mais óbvio seja a madeira, amplamente utilizada na fabricação de casas, móveis, ferramentas e, de modo geral, a maior parte dos utensílios medievais não metálicos. Mais que isso, a madeira era importante como lenha (especialmente no frio norte europeu) e para ser transformada (ainda dentro do espaço florestal, vale lembrar) em carvão vegetal, usado como combustível para forjas, vidrarias, fornos de produção de cerâmica e afins.

A floresta servia também como pastagem para animais como cavalos e, sobretudo, porcos, engordados com bolotas de carvalho como herança da tradição germânica. Nelas também se concentravam importantes depósitos de minerais, como ferro e carvão mineral.

A engorda dos porcos antes do inverno


Embora em geral as florestas fossem tidas como propriedades reais ou dos senhores locais, e seu uso fosse regulado e pesadamente cobrado, havia larga exploração destes recursos. O regime de trabalho variava: em alguns casos, haviam trabalhadores especializados, em outros, estes recursos eram explorados por grupos de camponeses agricultores, contratados para empreendimentos sazonais. De uma forma ou de outra, é importante notar que havia toda uma categoria social de trabalhadores ligados diretamente à floresta, que se aventuravam regularmente nestes espaços selvagens e marginais.

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3. Perigo e marginalidade

Mesmo pondo de lado todos os monstros e criaturas sobrenaturais que enchiam as páginas dos bestiários e povoavam o imaginário medieval, as regiões incultas estavam repletas de perigos mundanos. Bandidos e saqueadores (geralmente uma atividade sazonal) - embora conhecidos por atacar vilas, monastérios e até cidades - eram também menção recorrente em relatos de viagens e peregrinações através de áreas ermas.

Outra possível ameaça eram os animais selvagens. Os lobos, em especial, parecem ter causado grandes danos, justificando sua entrada massiva no imaginário (até hoje, poucas criaturas têm tanto apelo quanto o Lobisomem). Se eram comuns ataques em vilas e até mesmo em grandes cidades (como evidencia, por exemplo, o Diário do burguês de Paris, escrito entre 1409 e 1449), imagine nas regiões mais periféricas?

Lobo espreitando ovelhas


Apesar de todos os perigos reais, é possível encontrar outros fatores que levaram as florestas a serem retratadas como espaços de marginalidade. De fato, as culturas celtas e germânicas possuíam uma relação muito mais amigável com os bosques e regiões incultas que os romanos. O historiador romano Tácito, por exemplo, encontrou como maior ofensa chamar os inimigos de Roma de habitantes de florestas.

É possível atribuir o desprezo dos romanos aos territórios incultos a dois traços fortes de sua cultura: um é a necessidade de organização, o outro é a fixação pela ideia de um limes, de uma fronteira rígida e definida. Esta fixação está presente até em seu mito fundador, em que Rômulo mata Remo por desrespeitar uma linha fronteiriça traçada no chão. A oposição entre espaço civilizado e espaço selvagem, tão importante aos romanos, foi manteve-se viva na cultura medieval.

Outro elemento contribuinte para a imagem negativa das florestas foi o cristianismo e seu embate com as religiões politeístas locais, profundamente ligadas à natureza. Embora tenha havido exceções, como regra o cristianismo se espalhou negando elementos comuns das religiões anteriores, como o culto a figuras animais e a sacralidade de certos bosques ou árvores. O próprio essencialismo cristão incentivava os fiéis a negar a natureza terrena e voltar os olhos ao divino.

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4. A floresta no imaginário medieval

A floresta aparece na literatura medieval como espaço da magia e do maravilhoso, e sua presença está concentrada nos gêneros que compõem a chamada narrativa fantástica. Ela é comum nos poemas épicos, nos contos mitológicos, nas hagiografias dos mártires mais antigos e nos romances cavalheirescos; mas não nas crônicas, cantigas, hagiografias de vidas piedosas e biografias. Isso é sintomático do papel que a floresta ocupava dentro da produção literária medieval.

Aqui vou tomar como base parte do trabalho do mitólogo e mestre em literatura medieval Joseph Campbell. Em sua obra O Herói de Mil Faces, Campbell identifica algumas estruturas que permeiam as obras de narrativa fantástica. Uma dessas estruturas é a divisão entre o Mundo Comumonde o herói habita, e o Mundo Especial, onde ele vive aventuras e sofre provações.

Se na Idade Moderna o mundo especial se encontrava nas distantes terras da América, África
e Ásia, no século XX se mudou para o espaço sideral e mais recentemente para o mundo virtual, na Idade Média o mundo especial era, por excelência, a floresta.

Exemplos são o que não falta. Na Saga dos Volsungos (obra mais conhecida das Sagas Islandesas, redigidas no século XIII e derivadas de uma cultura oral muito mais antiga), Sigmung e seu filho Sinfiotli se refugiam do rei Siggeir em uma floresta, onde encontram trolls e vestem peles amaldiçoadas que os transformam em lobos (uma das mais antigas versões da lenda do lobisomem). Nas lendas arturianas, a floresta de Brocéliande é associada ao mago Merlin, além de ser palco de conflitos com diversas criaturas mágicas, como dragões e um cavaleiro que se transforma em uma fera quadrúpede para sequestrar Artur.

Mesmo em narrativas inteiramente passadas em ambiente urbano, Merlin era comumente retratado saindo da floresta


Sir Perceval, um Cavaleiro da Távola Redonda, enfrentando um dragão


Na lenda de São Jorge, embora o dragão estivesse atacando periodicamente uma cidade, o santo precisa ir até seu covil em uma região selvagem para enfrentá-lo. Em muitas hagiografias, a floresta ou deserto é apenas um lugar de penitência, onde o santo suporta as inclemências da natureza e resiste às tentações do demônio. Um exemplo curioso é a lenda de Robin Hood: mesmo havendo uma inversão de valores - onde o fora-da-lei é herói e o representante da lei é vilão - a associação cidade>lei, floresta>fora-da-lei se mantém.

No imaginário medieval, animais reais como o elefante estavam lado a lado com monstros como o dragão


Representar animais de terras distante nem sempre era fácil. Esse, teoricamente, é um crocodilo

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5. Conclusão

Malvista por seus perigos e sua ausência de ordem, porém necessária por seus recursos, a floresta não era totalmente aceita nem completamente excluída; estava sempre às margens da sociedade civilizada, tanto geograficamente quanto simbolicamente. O mesmo pode ser dito daqueles que escolhiam ter uma relação mais estreita com estes espaços; os trabalhadores florestais mencionados mais acima, além de qualquer um que viajasse com frequência demais, como mercadores itinerantes e ciganos. No imaginário, a floresta desempenhava o papel de um mundo fantástico, povoado por monstros, bruxas, metamorfos e agentes do demônio.

Em grande parte, a identidade do homem medieval como um ser civilizado, capaz de cultivar
a terra, construir cidades e criar leis foi construída através da oposição a uma terra inculta, selvagem e sem leis.

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6. Bibliografia

ANÔNIMO – Saga dos Volsungos – séc XIII

BASCHET, Jérôme – A Civilização Feudal: Do Ano Mil à Colonização da América

BEAUNE, Colette – Os Lobos: Cidades Ameaçadas in História Viva ano IV nº38

BIRRELL, Jean – Peasant Craftsman in the Medieval Forest

CAMPBELL, Joseph – O Herói de Mil Faces

CONDURACHI, Émile – Roma: Berço da Latinidade in DUBY, Georges – A Civilização Latina: Dos Tempos Antigos ao Mundo Moderno

LE GOFF, Jacques - O Imaginário Medieval

PASTOUREAU, Michel – No Tempo dos Cavaleiros da Távola Redonda

SCHAFER, Adam – Forests as Exercises in Medieval Power

WILLIAMS, Michael – Dark Ages and Dark Areas: Global Deforestation in the Deep Past

WILSON, Dolores – Multi-Use Management of the Medieval Anglo-Norman Forest