segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Pra que estudar História?



"- Pra que estudar um negócio que aconteceu há tanto tempo?"

"- Quem vive de passado é museu!"

"- Eu quero é olhar pro futuro, não pro passado!"

Não é raro escutar por aí frases deste tipo, proferidas especialmente por estudantes de ensinos fundamental e médio revoltados em ter que estudar História. Para a maioria das pessoas parece incompreensível que haja gente (como eu) que dedica sua vida a pesquisar e estudar sobre o passado.

Não é de todo culpa delas. A verdade é que pouquíssimos professores de ensinos fundamental e médio (de todas as matérias, não apenas História) se esforçam para justificar aos seus alunos a utilidade daquilo que estão ensinando. Normalmente, os motivos alegados se resumem a "para passar de ano" ou "para passar no vestibular".

Minha intenção neste texto é explicar de forma simples e concisa pra que diabos nós temos que estudar História.

Nota: se alguém quiser ir mais a fundo no assunto, recomendo o livro Apologia da História ou O Ofício do Historiador (Apologie de l´histoire ou Métier d´historien), publicado em 1949 pelo historiador francês Lucien Febvre.

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Vou começar com uma pequena metáfora que bolei.

Imagine que você e um amigo vão hoje juntos assistir à estréia de um filme no cinema. Acontece que você assistiu a pouquíssimos filmes durante toda a sua vida, e nunca foi muito a fundo em nenhum deles. Seu amigo, por outro lado, é um cinéfilo que vive assistindo dezenas ou centenas de filmes e os comparando entre si.

O filme que vocês verão hoje é uma estréia, nenhum de vocês dois o assistiu antes e vocês detêm a mesma quantidade de informação prévia sobre ele. No entanto, enquanto vocês assistem, seu amigo terá muito mais capacidade de compreender o filme profundamente e de analisá-lo de forma crítica. Por que?

Porque todos os filmes que ele assistiu anteriormente, embora nem sejam diretamente ligados ao de hoje, deram a ele uma base conceitual que o permite analisar qualquer filme. Ou seja: os conceitos aprendidos com os filmes do passado permitem analisar os filmes do presente.

Essa é, mais ou menos, a ideia por trás do estudo e ensino de História.

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Vejo muita gente usando erroneamente a frase "compreender o passado para compreender o presente". O problema é que essas pessoas entendem a história humana apenas como uma sucessão de fatos e acontecimentos, e acham que deveríamos estudar estes acontecimentos do passado para saber como chegamos onde estamos, em uma espécie de cadeia de eventos. Não é assim que funciona a ciência histórica.

O que fazemos é extrair das experiências de outras sociedades a base conceitual - noções de política, cultura, mentalidade, economia, entre outros - que será usada por outras ciências como Sociologia e Antropologia (ou pelos próprios historiadores, a maioria dos quais muito engajados política e socialmente) para diagnosticar problemas, propor soluções e, de modo geral, atuar na sociedade local e atual.

Alguns dos conceitos com os quais nós trabalhamos são Público e Privado, Gênero, Identidade, Autoridade, Repressão, Choque Cultural, Sincretismo. Como pode notar, são noções que, uma vez completamente compreendidas, podem ser aplicadas a qualquer situação. Assim, não ache que um historiador especializado na Grécia Antiga, por exemplo, não esteja apto a falar sobre o Brasil atual.

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Em suma, podemos dizer que que o ensino de História nas escolas serve para dar aos alunos as ferramentas que vãos permitir a eles analisar a sociedade na qual estão inseridos.

Ainda acha que é inútil estudar o passado?

1 comentários:

Matheus (Prof. Barbado) disse...

texto genial Thiago, parabéns. Com certeza o usarei em podcasts ou aulas que darei (não deixando de dar os devidos créditos claro)

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