segunda-feira, 7 de abril de 2014

Mitos Históricos: A Escravidão Indígena



Como você estudou (ou deveria ter estudado) na escola, quando os portugueses chegaram a estas terras que viriam a se tornar o Brasil, a primeira mão de obra que empregaram em larga escala foi a de escravos indígenas, da mesma forma como faziam os espanhóis. Mas logo os colonos portugas substituíram os indígenas por escravos importados da áfrica subsaariana.

Pode-se até dizer que o erro começa aí. Em todo o interior - tudo após a serra do mar, em especial na região equivalente a São Paulo, Paraná, Goiás e Minas Gerais - os nativos continuaram a ser apresados às centenas e usados como mão de obra pelo menos até o início do século XIX.

Mas, para ser honesto, em toda a região litorânea - na época muito mais habitado e importante - os escravos importados de áfrica realmente substituíram os nativos. O que nos leva à próxima questão: POR QUE?

Soldados da Comarca de Curitiba conduzindo índios aprisionados, obra de Jean Baptiste Debret

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Provavelmente, seu professor ou professora do Ensino Fundamental te deu uma ou mais das seguintes explicações:

1. Os índios fugiam muito mais facilmente, pois conheciam a terra e a mata.

As operações de apresamento quase sempre consistiam em atacar diretamente as aldeias ou mesmo as missões jesuíticas (até porque era mais fácil capturar índios já convertidos). Depois da batalha, todos os índios que não tivessem sido mortos eram capturados como escravos. Assim, um índio que fugisse não teria casa para onde voltar, e nem mesmo um índio é capaz de viver SOZINHO no meio do mato por muito tempo. Além disso, os captores tinham ao seu lado outros índios e mestiços, que conheciam a floresta tão bem quanto qualquer possível fugitivo.

2. Os índios eram mais fracos e morriam mais facilmente, pois não estavam acostumados a trabalhar.

Mesmo vivendo em comunidade, a vida na Mata Atlântica não é assim tão fácil. Essa explicação com certeza veio de alguém que nunca sequer pisou em uma mata, e acha que elas são florestas encantadas como em um filme da Disney, com passarinhos te trazendo frutas enquanto você se balança na rede. A vida dos índios eram dureza, e eles eram tão fortes e resistentes quanto qualquer africano.

3. A Igreja Católica condenava a escravidão indígena pois estes deveriam ser catequizados, enquanto os africanos teoricamente não seriam dotados de alma.

Existiam de fato religiosos que condenavam a escravidão indígena, mas não a africana. Como haviam outros que condenavam ambas as escravidões. Ou nenhuma das duas. Acontece é que a Coroa Portuguesa patrocinava aqueles cujo discurso religiosos se encaixava em seus projetos de Estado.

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Qual a explicação real então?

A decisão pela substituição da mão-de-obra partiu não dos colonos, mas da Coroa Portuguesa. Os indígenas eram capturados por colonos e vendidos para colonos, de forma que este dinheiro pago ficava por aqui mesmo. Já os africanos eram capturados na África e vendidos na Colônia, mas por mercadores portugueses. Assim, o dinheiro do pagamento (inclusive muito mais caro, por causa do "frete" marítimo) acabava indo para Portugal, constituindo mais uma importante fonte de receita para a Coroa Portuguesa.

1 comentários:

Unknown disse...

Explicação um tanto quanto simplista: se foi uma decisão da coroa, como esta forçava os colonos a comprar os escravos africanos? Por decreto, qual?

Se a razão era por o preço do africano ser menor, esta seria uma razão suficiente. Se não era, como na verdade não era, não bastava a coroa dizer para parar de capturar escravos indígenas e passar a usar africanos. Ela da fato fez isso ao longo de séculos, sem sucesso. Uma resposta mais correta seria o esgotamento das fontes de mão de obra: a campanha de captura de escravos, em toda a costa, foi genocida, acabando com as grandes aldeias. Mesmo quando se passou a buscar a captura de escravos no interior (os famosos bandeirantes), eles também tiveram um efeito genocida. Basta ver a destruição das grandes missões no Paraná, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Uma boa leitura sobre o tema é o livro de John Monteiro: Negros da Terra. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1994.

Além disso, se a questão era do dinheiro ficar no Brasil, observe-se que o comércio de escravos era controlado por interesses estabelecidos na colônia, desde o século XVII, como já está bem estabelecido na historiografia (ver, por exemplo, o livro "Homens de Grossa Ventura" ou o de Boxer, Salvador de Sá).

Por falar em historiogradia, todas as três explicações negadas tem sua razão de ser: de fato, os índios podiam fugir mais fácil - D'Abeville, escrevendo em 1616, fala de um chefe que fugiu da escravidão em Pernambuco, com sua aldeia, os portugueses o encontrando no Maranhão; os indios eram fracos para o trabalho, como todos os escravos: vida útil de um cativo era muito reduzida, fosse ele indígena ou negro. Por fim, algumas ordens da igreja (não todas) fizeram uma campanha constante contra a escravidão, com maior ou menor resultado.

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