sábado, 24 de maio de 2014

Mitos Históricos: Dom Pedro I



Você já ouviu falar em Reconstrução de Memória?

Por mais que hoje a maioria de nós brasileiros aceite a República como nossa forma legítima de organização estatal, é impossível negar que ela foi implantada através um golpe de estado. Um golpe militar, com pouco ou nenhum apoio popular.

Como no caso de qualquer manobra política ousada deste tipo, a nova elite precisou justificar, tanto para o momento quanto para a posteridade, suas ações, para evitar que elas passassem por simples usurpação. Um dos mecanismos mais eficientes para isso é reconstruir a memória que a população tinha sobre os antigos governantes.

Se tem uma figura fascinante que foi seguidamente execrada ao longo do último século foi nosso primeiro imperador, Dom Pedro I. É verdade; ele era um homem de ação, pouco metódico e muito diferente de seu filho, Pedro II. Mas nem tudo o que você aprendeu sobre ele era verdade.

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1. D. Pedro I era um ignorante, iletrado e sem estudo

Você chamaria de ignorante alguém que fala Português, Latim, Inglês, Francês e um pouco de Alemão? Ou alguém cuja obra literária favorita era a Eneida, do poeta romano Virgílio (lida no idioma original)? Sim, Pedro estava abaixo da educação esperada de um monarca da época (ou de sua esposa, Dona Leopoldina), mas estava longe de ser ignorante. Era especialmente versado em música (uma tradição dos Bragança), tendo composto inclusive nosso Hino da Independência. E ainda escrevia, sob pseudônimos, dezenas de cartas aos jornais locais, rebatendo as críticas ao seu governo.

Os Primeiros Sons do Hino da Independência, de Augusto Bracet


2. D. Pedro I era um grosseiro, que ignorava a esposa e os filhos

Sim, ele gostava de festejar e tinha várias amantes. Como qualquer nobre da época. Por mais que possamos julgá-lo com base nos valores morais de hoje, o casamento dentro de uma grande família era um acordo político, e não se esperava que o homem fosse fiel (no máximo que evitasse envergonhar sua esposa). Além disso, D. Pedro e D. Leopoldina tinham uma relação bastante amigável. Ela - bastante instruída e tendo trazido da Europa uma corte que era praticamente uma universidade - o ensinou algo de política, economia, botânica e do idioma alemão, e ele a ensinou música. Além disso, suas cartas revelam ao menos algum nível de preocupação e afeto por seus filhos, especialmente Pedro (futuro imperador).


3. D. Pedro I era um mau governante, absolutista e com sede de poder

Na verdade, Dom Pedro I era tido em sua época como um ícone de monarca constitucional. De fato, foi o único rei a qual foram oferecidas nada menos que 4 coroas nacionais, das quais todas ele recusou ou abdicou.
- A primeira, conquistada em 1822, foi a do Brasil, da qual abdicou pouco tempo depois, em 1831.
- Em 1826, quando seu pai morreu, abdicou da coroa portuguesa em favor de sua filha, D. Maria. Quando seu irmão D. Miguel usurpou o governo de Portugal para si, Pedro ainda lutou para derrubá-lo, o que conseguiu em 1834, quando recusou a coroa portuguesa novamente.
- Desde o fim do domínio napoleônico, a Espanha embarcou em uma crise e uma guerra civil entre absolutistas e constitucionalistas. Entre 1826 e 1830, Pedro I foi procurado três vezes pelos constitucionalistas para liderar em seu nome e clamar a coroa para si, mas recusou.
- Em uma longa luta de libertação contra o Império Otomano entre 1821 e 1830, os gregos pediram pelo apoio e liderança de Pedro I e ofereceram a ele a coroa, que ele recusou.

Abdicação de Dom Pedro I do Brasil, de Aurélio de Figueiredo

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