sábado, 4 de janeiro de 2014

E a Desolação de Smaug, decepcionou?



Enquanto a trilogia O Senhor dos Anéis é uma quase unanimidade, e o primeiro volume da trilogia O Hobbit (Uma Jornada Inesperada, 2012) fez um sucesso estrondoso mesmo entre os fãs do livro, A Desolação de Smaug certamente dividiu opiniões. Teve gente que odiou, teve gente que amou, ambos com todas as forças. Daqui a pouco vou falar o que eu achei.

Primeiramente, gostaria de esclarecer uma coisa. Criou-se aqui na internet um "mito" de que só quem não leu o livro gostou do filme, e que "os verdadeiros fãs" ficaram decepcionados. Por conta disso, vou ser obrigado a começar o post dando carteirada e deixando aqui uma lista de livros do universo Tolkien que eu possuo e li.

Do Tolkien:
- O Hobbit
- O Senhor dos Anéis
- O Silmarillion
- Contos Inacabados
- Os Filhos de Húrin

Não do Tolkien, mas sobre seu universo:
- Curso de Quenya: A Mais Bela Língua dos Elfos
- A Sabedoria do Condado
- O Mundo Mágico do Senhor dos Anéis
- O Um Anel RPG
- O Senhor dos Anéis RPG: Animais Cruéis e Mágica Prodigiosa


Tudo isso, além de anos de atividade em fóruns brasileiros e gringos. Sim, eu sou um fã hardcore.

E gostei do filme. Simples assim. Eu entrei na sala de cinema, me sentei e tive umas três horas de diversão. Saí feliz, porque aprendi a não me preocupar muito com fidelidade de adaptação. O filme tem lá seus defeitos de coerência e ritmo, mas está longe de ser ruim e de não se sustentar sozinho.

Para comentar sobre os pontos do roteiro que mais causaram polêmica entre os fãs e espectadores, tenho primeiro que deixar clara minha opinião a respeito de adaptações. Na minha concepção, uma adaptação cinematográfica não é a obra original transposta para uma nova mídia, mas uma nova obra, inspirada na original. Pode parecer a mesma coisa, mas isso gera uma mudança de percepção enorme, porque eu entendo que as duas obras foram criadas em épocas diferentes, tendo públicos diferentes em mente.

Em 1937 (ano de publicação do livro The Hobbit), era normal um livro inteiro sem nenhuma personagem feminina. Em um filme blockbuster de 2013, não. Em 1937, a insistência do Tolkien quanto à pureza e imiscibilidade das raças era aceitável. Em 2013, nem tanto.

Assim sendo, nem a presença da elfa Tauriel nem seu romance com o anão Kili me incomodaram. Seriam elementos estranhos em um livro do Tolkien, mas não em um filme oito décadas mais novo. Apesar do interesse um no outro ter sido um tanto repentino (em termos de narrativa), a atriz Evangeline Lilly é tão carismática (pra não dizer linda) que consegue sustentar as cenas sem maiores desconfortos.


Isso aí, você acabou de ler um fã hardcore de Tolkien defendendo o romance entre um anão e uma elfa.

Mas claro, o filme merece suas críticas, e elas não são leves. Não vou falar sobre o tamanho excessivo das cenas de ação nem da incoerência de alguns pontos do roteiro; vou pular direto para o maior defeito do filme, aquele que realmente me incomodou enquanto eu assistia. A falta de identidade.

O Senhor dos Anéis é um livro épico, que narra os eventos que mudaram a história do mundo onde ele se passa. O Hobbit não. O Hobbit é uma aventura menor, que envolve menos gente e tem consequências muito menos importantes. Em suma, ele não chega a ser épico.

Mas o Peter Jackson (diretor dos filmes, para quem não sabe) quer transformar essa história em um épico. Alguém (talvez ele, talvez sua equipe, talvez o estúdio) acha que não vale a pena fazer uma nova trilogia se ela não impactar diretamente na antiga. Isso poderia ser bom, mas acabou não sendo. A única maneira que ele encontrou de fazer isso (ao menos nesse filme) foi copiar O Senhor dos Anéis quase cena a cena.

Temos aqui personagens análogos (a Cidade do Lago tem seu próprio Gríma Língua-de-Cobra), cenas análogas (uma elfa curando um ferimento causado por uma Lâmina de Morgul usando Athelas e magia élfica) e até ângulos de câmera idênticos, para não falar do irritante fetiche que Peter Jackson desenvolveu pela palavra precioso.


O filme é bem-feito, divertido e provavelmente eu vou acabar revendo ele um monte de vezes. Mas não está à altura da trilogia original, nem vai me marcar da forma como ela marcou.


PS: O Smaug ficou INCRÍVEL. O fato de suas asas serem seus membros dianteiros (como num morcego ou pterossauro) faz muito mais sentido biológico que as representações clássicas, e combina com seu comportamento bem reptiliano. Adorei a ideia de os anões combaterem ele usando os aparatos da mina - o que demonstra sua engenhosidade e seu amor pela casa, duas características da raça - mas achei a estátua de ouro derretido muito cartunesca. Eles podiam só ter causado um desabamento ou algo assim.

3 comentários:

Kelmer disse...

Ótimo post! Concordo em boa parte. Confesso que não sou o maior fã do Tolkien e só tive paciência para ler um pouco do Silmarillion, então, não sei como é a história do livro do Hobbit. Não sou a pessoa mais adequada a criticar o filme, mas confesso que gostei bastante. Foi um filme mais "rápido" e com bem mais ação do que o primeiro, claro, e também teve uma trilha sonora mais fraca. As partes cantadas no começo do primeiro filme me encantaram de uma forma indescritível. Como você disse, não sei se a intenção do livro Hobbit é de transmitir uma história épica como o Senhor dos Anéis, mas o filme está conseguindo isso facilmente, ao meu ver, claro.

Só sei que saí da sessão feliz e contente. Não me arrependi de nenhum centavo daquele ingresso e, com certeza, assistirei ao Hobbit muitas outras vezes!

Jim Monteiro disse...

Você não precisa ter lido o livro pra comentar sobre o filme, justamente porque - como eu disse - são obras diferentes. Se você gostou, o filme cumpriu sua proposta pra você, então tá ótimo.

Quanto à parte musical, de fato esse foi mais fraco. Cada um dos SdA's tem um tema marcante, e o primeiro Hobbit também. Mas esse não, infelizmente. E quanto às canções cantadas pelos personagens; tem gente que acha desnecessário, mas eu adoro. Acho que compõe o tema da história melhor que qualquer outra coisa.

Felipe Jansen disse...

você não pegou espírito da coisa, esses 3 novos ótimos filmes do Hobbit - foram feitos para complementar a trilogia '' Senhor dos Anéis (e de fato completam), esse pessoal fica com frescura e ao mesmo tempo tenta falar bonito , aff
ficou tudo perfeito no filme

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